Morreu neste domingo o escritor peruano Mario Vargas Llosa, merecido Prêmio Nobel de Literatura. Li no total quatorze livros dele, entre ficção e ensaios políticos, e mais um de seu filho Alvaro. Ambos defenderam a visão liberal clássica num continente tomado pelo esquerdismo radical. Mario foi duro crítico da turma de Fidel Castro e seus discípulos, como Lula no Brasil. Vargas Llosa chegou a dizer que Lula era “fonte de corrupção”, afirmou que jamais votaria no petista e que preferia Bolsonaro. Para a elite socialista, um pecado capital.
Em meu livro “Liberal com Orgulho”, cheguei a escolher um trecho de Vargas Llosa como epígrafe, pois captura bem a postura humilde liberal: “Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos”. Vargas Llosa foi, acima de tudo, contra o coletivismo utópico e totalitário, por focar no indivíduo e reconhecer suas falhas, suas paixões. Era um duro crítico do tribalismo.
Mais recentemente, por ter uma visão cosmopolita e um tanto globalista, Vargas Llosa se tornou um duro crítico do nacional-populismo de figuras como Trump, e condenou o Brexit também. Apesar de compreender os perigos que um típico liberal clássico enxerga nesses fenômenos políticos, julgo um equívoco essa posição, ao não enxergar a ameaça muito maior que o próprio globalismo se tornou para as liberdades individuais. Cheguei a escrever sobre isso na Gazeta do Povo.
Em um longo texto publicado uns dez anos atrás, Vargas Llosa explicou melhor sua visão do papel do estado na sociedade: “Há certas ideias básicas que definem um liberal. Por exemplo, a liberdade, valor supremo, é una e indivisível, e deve atuar em todos os campos para garantir o verdadeiro progresso. A liberdade política, econômica, social cultural, é uma só e todas elas permitem o avanço da justiça, da riqueza, dos direitos humanos, das oportunidades e da coexistência pacífica em uma sociedade. Se a liberdade se eclipsa em apenas um desses campos, ela se encontra armazenada em todos os outros. Os liberais acreditam que o Estado pequeno é mais eficiente do que o que cresce demasiado e, quando isso ocorre, não só a economia se ressente, como também o conjunto das liberdades públicas. Eles acreditam que a função do Estado não é produzir riqueza, e essa função é melhor desempenhada pela sociedade civil, num regime de livre mercado, no qual são proibidos os privilégios e a propriedade privada é respeitada. Indubitavelmente, a segurança, a ordem pública, a legalidade, a educação e a saúde competem ao Estado, mas não de maneira monopólica, e sim em estreita colaboração com a sociedade civil”.
Sobre educação e saúde, há controvérsias. Vargas Llosa fazia concessões demasiadas aos social-democratas, e demonstrava implicância exagerada para com conservadores religiosos. Era um típico liberal da velha guarda, que tem seu valor no debate de ideias, sua importância enorme na trajetória ocidental. Bebendo em fontes como Karl Popper e Isaiah Berlin, Vargas Llosa nos lembra da falibilidade humana, das verdades que mudam com o tempo (não creio que sejam todas – aprendi a dar mais valor às “coisas permanentes”, como diria T.S. Eliot e Russell Kirk), e da importância da tolerância. Mas alguns temas cabeludos simplesmente não nos oferecem respostas únicas, definitivas. Existem “verdades contraditórias”, ou valores incomensuráveis. Os liberais aceitam isso, e pregam uma Grande Sociedade Aberta, sempre em movimento, dinâmica, sendo construída por tentativa e erro.
Foquei mais até aqui no Vargas Llosa como pensador político, mas sua maior contribuição foi mesmo na literatura. Seus livros são excelentes, seus personagens são criados com muito esmero, a figura do narrador é sempre encantadora em suas histórias, e alguns livros são puro entretenimento, como “Pantaleão e as visitadoras”. Tive ótimos momentos em minha vida graças ao talento literário do escritor peruano que agora nos deixa. Cheguei a decidir colocar o nome de um de seus personagens no gato que compraria, mas Dom Rigoberto, que seria um persa aristocrata, nunca virou uma realidade. Talvez não seja tarde demais, em que pese a matilha de cinco cachorros e uma gata na casa. Ou talvez seja mais fácil escolher algum outro livro de Vargas Llosa que ainda não li para essa despedida. Descanse em paz, Vargas Llosa. O mundo perdeu um grande escritor e um excelente defensor do liberalismo.
Dom Corleone acordou irritado. Lera no jornal que aquele mesmo jornalista o criticava novamente. O sujeito tinha até criado um apelido depreciativo para Corleone! O capo chamou em seu gabinete um dos capangas e ordenou: “Pega logo esse jornalista!”
Sem saber como fazê-lo, o capanga conversou com seu comparsa: “Quando o chefe cisma... e agora? Não encontrei absolutamente nada contra o jornalista”. Seu colega, que conhecia bem os métodos do chefe, principalmente quando cismado, disse: “Ora, use a criatividade! E capricha no trabalho, para montar uma narrativa comprometedora desse jornalista”.
Mas não adiantou. O jornalista tinha coragem e “costas quentes”. Ele conseguiu asilo num país sério, e se Corleone mandasse seus jagunços para pegá-lo na marra, poderia gerar um incidente diplomático internacional e afetar seus negócios.
Não que Corleone ligasse tanto para isso. Certa vez, ele peitou até o rei da Espanha! E sobre o presidente americano, ele disse, com ...
Em ciências humanas, não temos laboratórios controlados como nas ciências naturais. O mais perto que chegamos disso é quando um mesmo povo numa mesma geografia e com a mesma cultura é dividido de forma arbitrária. Aí temos um bom experimento social, como quando o Vietnã, a Alemanha ou a Coreia foram partidos ao meio. Ficou claro o sucesso relativo do capitalismo frente ao socialismo.
O mesmo pode se dizer sobre manifestações contra a favor da anistia aos presos políticos do Brasil de hoje. O contraste é grande demais para ser ignorado. Foram dois protestos bem próximos no tempo. A esquerda convocou aqueles que gritam “Anistia nunca”, os mesmos que defendem o socialismo fracassado e que, no passado, foram anistiados por crimes verdadeiros. Boulos era o líder, e foi uma manifestação bastante vazia.
A direita, sob a liderança de Jair Bolsonaro, fez a sua manifestação pela anistia dias depois, no mesmo local. A Av. Paulista estava lotada, com muito mais gente. A turma de...
Isso é coisa de máfia!
Rodrigo Constantino
Chegamos num patamar em que “várzea” já não é capaz de definir mais nossa situação. A imprensa trata com naturalidade uma evidente ameaça proferida pelo ministro Alexandre de Moraes contra o presidente de um dos maiores partidos do país. “A nova arma de Moraes para pressionar Kassab contra a anistia do 8/1”, diz a chamada. A arma? “Em meio a debate sobre anistia, ministro Alexandre de Moraes mandou investigação contra Gilberto Kassab da 1ª instância para o STF”.
Em outra “reportagem”, consta que o Planalto “aposta que pressão do STF em Kassab surtirá efeito”. A explicação é clara: “Para auxiliares de Lula no Planalto, presidente do PSD, Gilberto Kassab, não vai querer comprar briga com o STF por causa do PL da Anistia”. A politização da Corte Suprema já é tratada com a maior normalidade na mídia. O STF virou o mais poderoso partido político do Brasil.
E caso tudo isso dê errado, caso Kassab ...