Rodrigo Constantino
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Adeus, Mario Vargas Llosa!

Morreu neste domingo o escritor peruano Mario Vargas Llosa, merecido Prêmio Nobel de Literatura. Li no total quatorze livros dele, entre ficção e ensaios políticos, e mais um de seu filho Alvaro. Ambos defenderam a visão liberal clássica num continente tomado pelo esquerdismo radical. Mario foi duro crítico da turma de Fidel Castro e seus discípulos, como Lula no Brasil. Vargas Llosa chegou a dizer que Lula era “fonte de corrupção”, afirmou que jamais votaria no petista e que preferia Bolsonaro. Para a elite socialista, um pecado capital.
Em meu livro “Liberal com Orgulho”, cheguei a escolher um trecho de Vargas Llosa como epígrafe, pois captura bem a postura humilde liberal: “Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos”. Vargas Llosa foi, acima de tudo, contra o coletivismo utópico e totalitário, por focar no indivíduo e reconhecer suas falhas, suas paixões. Era um duro crítico do tribalismo.
Mais recentemente, por ter uma visão cosmopolita e um tanto globalista, Vargas Llosa se tornou um duro crítico do nacional-populismo de figuras como Trump, e condenou o Brexit também. Apesar de compreender os perigos que um típico liberal clássico enxerga nesses fenômenos políticos, julgo um equívoco essa posição, ao não enxergar a ameaça muito maior que o próprio globalismo se tornou para as liberdades individuais. Cheguei a escrever sobre isso na Gazeta do Povo.
Em um longo texto publicado uns dez anos atrás, Vargas Llosa explicou melhor sua visão do papel do estado na sociedade: “Há certas ideias básicas que definem um liberal. Por exemplo, a liberdade, valor supremo, é una e indivisível, e deve atuar em todos os campos para garantir o verdadeiro progresso. A liberdade política, econômica, social cultural, é uma só e todas elas permitem o avanço da justiça, da riqueza, dos direitos humanos, das oportunidades e da coexistência pacífica em uma sociedade. Se a liberdade se eclipsa em apenas um desses campos, ela se encontra armazenada em todos os outros. Os liberais acreditam que o Estado pequeno é mais eficiente do que o que cresce demasiado e, quando isso ocorre, não só a economia se ressente, como também o conjunto das liberdades públicas. Eles acreditam que a função do Estado não é produzir riqueza, e essa função é melhor desempenhada pela sociedade civil, num regime de livre mercado, no qual são proibidos os privilégios e a propriedade privada é respeitada. Indubitavelmente, a segurança, a ordem pública, a legalidade, a educação e a saúde competem ao Estado, mas não de maneira monopólica, e sim em estreita colaboração com a sociedade civil”.
Sobre educação e saúde, há controvérsias. Vargas Llosa fazia concessões demasiadas aos social-democratas, e demonstrava implicância exagerada para com conservadores religiosos. Era um típico liberal da velha guarda, que tem seu valor no debate de ideias, sua importância enorme na trajetória ocidental. Bebendo em fontes como Karl Popper e Isaiah Berlin, Vargas Llosa nos lembra da falibilidade humana, das verdades que mudam com o tempo (não creio que sejam todas – aprendi a dar mais valor às “coisas permanentes”, como diria T.S. Eliot e Russell Kirk), e da importância da tolerância. Mas alguns temas cabeludos simplesmente não nos oferecem respostas únicas, definitivas. Existem “verdades contraditórias”, ou valores incomensuráveis. Os liberais aceitam isso, e pregam uma Grande Sociedade Aberta, sempre em movimento, dinâmica, sendo construída por tentativa e erro.
Foquei mais até aqui no Vargas Llosa como pensador político, mas sua maior contribuição foi mesmo na literatura. Seus livros são excelentes, seus personagens são criados com muito esmero, a figura do narrador é sempre encantadora em suas histórias, e alguns livros são puro entretenimento, como “Pantaleão e as visitadoras”. Tive ótimos momentos em minha vida graças ao talento literário do escritor peruano que agora nos deixa. Cheguei a decidir colocar o nome de um de seus personagens no gato que compraria, mas Dom Rigoberto, que seria um persa aristocrata, nunca virou uma realidade. Talvez não seja tarde demais, em que pese a matilha de cinco cachorros e uma gata na casa. Ou talvez seja mais fácil escolher algum outro livro de Vargas Llosa que ainda não li para essa despedida. Descanse em paz, Vargas Llosa. O mundo perdeu um grande escritor e um excelente defensor do liberalismo.

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